Então de novo...
Hoje contarei a história do meu primeiro amor. A mesma menina por quem fui apaixonado por oito anos. A irmã do meu melhor amigo.
Era uma linda tarde de verão. Os passarinhos cantavam, os vizinhos se davam bom dia e o sol brilhava como nunca. Tudo isso é verdade, exceto pela parte em que era uma linda tarde de verão, os passarinhos cantavam, os vizinhos se davam bom dia e o sol brilhava como nunca. Na verdade era uma noite de pré-adolescentes. Um monde deles, se multiplicando como ratos brincando sob o pilotis do meu prédio em Brasília. Foi num dia desses que eu segurei a mão do amor da minha vida na época, olhei em seus olhos e disse: ... perae, deixa eu contar do início.
Eu era recém chegado na quadra. Ainda não conhecia ninguém, mas isso nunca foi problema. Eu tinha onze anos de idade, então era só descer, encontrar um campinho de futebol e fazer amizades. Fácil assim. E foi o que aconteceu.
Em pouco tempo eu era um dos mais pops dos meninos da parte de baixo da quadra. Isso por que a quadra era separada em duas: a parte de cima, dos mlks uns 2 ou 4 anos mais velhos, ond rolavam os "bailes funks" (pancadaria aberta onde os amigos xingavam as mães dos outros num ritual doce e lindo de se ver) e os jogos de fut mais alto níveis, e a parte de baixo da quadra, formada por mlks de todos as idades (mais novos que os outros), tamanhos e pesos. Dois deles viraram meus melhores amigos. E um deles tinha uma irmã. Na verdade, fiquei amigo dela antes. Depois ele virou meu melhor amigo.
Nunca esquecerei a primeira vez que a vi. Estavamos sob o prédio dela, brincando de pique bandeirinha, e ela tinha o rosto mais lindo que já tinha visto. Morena, branquinha, cabelos bem pretos. Linda. Meu pobre coração de menino de 11 anos naum aguentou. Amor à primeira vista.
Na época, as coisas até que funcionaram muito bem. Eu gostava dela, e aparentemente ela de mim. Épocas bem mais fáceis, onde as pessoas naum precisavam se preocupar com contas a pagar, emprego e horas de serviço comunitário mandadas por um juiz. Assim ficamos por um tempo, ela gostando de mim e eu dela. Mas, como derrubar esta parede era mais difícil do que derrubar uma de concreto, as coisas ficaram assim por um tempo.
Até que um dia, sob o pilotis do meu prédio, estávamos todos brincando: os mlks da parte de cima da quadra, o temido bloco J, e os mlks da parte de baixo. Brincar é um termo meigo demais pra expressar o que fazíamos lá. Zoações pertrubadas envolvendo mãos dos outros, planetas do nosso sistema solar e xingamentos nunca ouvidos antes pela humanidade. Mas a parte boa é que, naquela época, todos queriam se arrumar com alguém, e também arrumar alguém pros outros.
Acho que eu tinha uns treze anos, ela uns 11, e nenhum dos dois havia ficado com alguém até então. O alfa do grupo dos mlks de cima (sempre tem o alfa), sabendo que nos gostavamos, me pegou pelo braço, e à ela também. Nisto as pessoas que ali estavam se multiplicaram, pelo menos pra mim. Nunca vi tamanha impressão de ocupação de espaço, nem em estádios de futebol, nem em shows do AC/DC. Então, pela simples e espontânea pressão do momento, porém com uma vontade de dizer que poderia explodir um caminhão, perguntei se ela queria ficar comigo. Como resposta, recebi tudo que queria ouvir: "agora não, tem muita gente aqui".
Desta forma, salvas de palmas cobriram meu ouvidos (tínhamos uma média de 12 anos, lembram?). Tudo voltou à normalidade, até que uns dez minutos depois ela me chama pra visitar a parte de trás do prédio, como uma amiga dela me contou. Hummm, sapekinha. To zuando.
Claro que fui. Ao chegar lá, ela estava me esperando. Ela olha pra cima. Eu olho para cima. Então ela olha para baixo. E eu também. Então a pergunta mais traumática para um mlk é cuspida da minha boca. Perguntei se poderia dar um beijo nela. Ela disse que sim.
Aquele foi um dos melhores beijos da minha vida. Tudo estava perfeito. Lembro com muito carinho daquilo. Minutos depois (ou segundos), ela foi embora. Inventou uma desculpa e foi embora de vergonha. Mas tudo bem, depois nos falaríamos e, quem sabe, naum começariamos a namorar?
Naum foi o que aconteceu. Ficamos um tempo depois sem nos falar, e quando voltamos, acho que uns 2 anos depois, ficamos amigos. Até hoje não sei o motivo pelo qual ela ficou sem falar comigo. É humanamente impossível um selinho ter esse efeito todo. Nem se tiver um efeito reverso ao que os desodorantes Axe têm. Acho que falaram coisas demais pra ela, naum sei. Quem sabe um dia ainda descubro.
Esta foi a vez que fiquei com ela na teoria. Sim, pq prática, prática que é bom nada. Anos depois, ainda fiquei com ela na prática. Um dos melhores beijos da minha vida.
Era formatura da minha mãe. Eu tinha uns dezessete anos, ela uns quinze, acredito. Fui com duas das minhas melhores amigas, ela e uma amiga nossa. Claro que o principal motivo por te-la chamado era eu ser afim dela ainda. No carro eu, minha mae, meu pai, dois irmãos, amiga dela e ela. Então fomos deixá-la em casa primeiro.
Estacionamos atrás do prédio dela. Eu nem a levaria na portaria, nunca tive feeling pra essas coisas. Até que meu pai praticamente me dá um tapa na cabeça usando apenas os olhos (esses superpoderes que só os pais têm) e na hora eu entendi: "vou contigo até a portaria", eu disse.
Fomos conversando, até a entrada da portaria. Nos despedimos como amigos. Em uma fração de segundo, toda a paixão que sentia por ela passou diante dos meus olhos. Só sabia que naum poderia ficar daquela forma mais. Voltei.
Assim que a porta de se fechou, e antes que a porta do elevador se fechasse, bati. Ela voltou e abriu. Eu pedi um beijo. Ela não entendeu. Eu pedi um beijo novamente. Desta vez ela entendeu. Um problema era ela estar ficando na época com um amigo meu. Eu sei que isso não se faz, e odeio esse tipo de coisa, mas eu estava PELO MENOS seis anos com a preferência! Eu era apaixonado por ela. Então ela disse que tudo bem, desde que ninguém ficasse sabendo. E aquele foi um dos melhores beijos da minha vida. Voltei pra casa literalmente flutuando. Não lembro de ter existido asfalto que separasse o prédio dela do meu.
Depois que ela se foi, tudo voltou a ser como era. Nos primeiros dias nem tanto, mas depois sim. Ainda somos amigos, e acho que ela ainda lembra dessa história. Hoje ela está um tanto quanto que casada. Ou encaminhando pra isso. Lembro com muito carinho desse dia, e é um sentimento que nuam volta mais.
Antes dela ainda tive um amor. Ela era um ano mais velha, estudava na mesma escola que eu. Era filha de uma amiga do meu pai. Adorava voltar das festas escutando Raça Negra no Tempra 96 vermelho do meu pai pensando nela. E como em todas as paixonites desta época, eu enchia o saco dela pra chamar a atenção. Até ela correr atrás de mim nos corredores da escola e me bater. Han, crianças.
Fui apaixonado por ela da primeira à quinta série. E realmente não existia, pra mim, mais ninguém. Nuam lembro de ter gostado de outra menina nessa época. Até que um dia, na sexta série, ela sofreu um acidente que a deixou com sequelas. Foi difícil na época, mais pela sensação de impotência após o fato e por eu ainda ser bem moleque. Após isso quase nunca mais a vi. Hoje sei que ela namora, está BEM melhor.
Às vezes gostaria de ser como Peter Pan. Sabe, nunca envelhecer. Odeio envelhecer. Odeio mudanças, apesar de serem necessárias. Mas o mundo dá volta, as pessoas crescem, mudam, devem dar lugar ao novo. E as experiências mudam. E no final das contas tudo que importa é o que foi vivido, e o que é guardado com carinho na lembrança, sem arrependimentos. Arrependimentos. Esse é um tópico bom para dissertações futuras.
Ao som de nada no momento